sábado, 12 de março de 2011

Saber copiar um autor consagrado é a única maneira de formar novos autores


Maria Carolina Maia, na Veja

Tem início neste sábado a franquia paulistana da oficina de escrita criativa de Luiz Antonio de Assis Brasil, a mais prestigiada oficina literária do país. Já passaram por ela nomes como Daniel Galera, um dos principais representantes da nova geração de escritores brasileiros, autor de romances como Até o Dia em que o Cão Morreu e Mãos de Cavalo. Em conversa com VEJA Meus Livros, Assis Brasil fala um pouco de seus métodos de ensino, mais calcados na prática que na teoria, e dá dicas para quem quer ser escritor. Confira abaixo.

Em termos gerais, o que a Oficina de Escrita Criativa propõe como prática literária? A escrita do texto ficcional-narrativo. Não é um curso teórico, embora alguma bibliografia que peço para ser lida, concernente aos processos criativos em geral e literários, em particular. Fazemos exercícios de maneira abundante e sistemática. Nada fica ao acaso.

Do que uma história precisa para ser considerada literatura? Qualidade textual, antes de mais nada, algo que vem com os anos de leitura. Originalidade no tratamento de temas banais. Credibilidade, isto é, a sensação que dá, ao leitor, de que aquilo de fato acontece ante seus olhos.

Além de uma oficina literária, que caminhos deve buscar um escritor durante a sua formação? Muita leitura: textos ficcionais alheios, critica literária, resenhas de jornais e revistas. Mas não só: também textos científicos, textos de História, de Filosofia, de Culinária, de Herpetologia. Nenhum escritor pode dizer que algo não o interessa. Sugiro, também, aconselhamento com quem já está na estrada há mais tempo. E tomar algumas aulas de gramática não faz mal a ninguém, nem que seja para violar as regras.

Copiar o estilo de um autor consagrado é uma boa forma de começar? É a única forma de começar. Não há outra. Depois que um leitor se encanta com um livro, ele o fecha dá um suspiro: “Ah, eu gostaria de escrever como esse cara”. É natural que começará imitando aquele cara. Mas essa é uma doença infantil do escritor – parodiando Lênin. Se a vocação for verdadeira, ele encontrará seu próprio e exclusivo caminho.

Quando um escritor pode se considerar formado? Se um escritor se considera pronto é porque cedeu à vaidade da vida literária. E a vida literária nada tem em comum com a literatura. A literatura é uma busca constante. Para lembrar Drummond, é quase uma luta vã. Sempre é possível escrever melhor. Nunca ninguém está pronto – para nada, aliás.

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