CPI vai investigar suspeita de superfaturamento em licitação, que custou R$ 29,8 mil ao Legislativo estadual
Publicado em 06/03/2011 | Sandro Moser e Rogério GalindoO equipamento para bloqueio de sinal de telefones celulares comprado pela Assembleia Legislativa do Paraná por R$ 24,3 mil, no ano passado, foi adquirido por um valor oito vezes maior do que o oferecido no mercado. De acordo com uma consulta feita pela Gazeta do Povo a empresas que vendem e instalam o mesmo produto com autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), um aparelho equivalente ao licitado pela Assembleia – com as mesmas características e mesma tecnologia – pode ser comprado por R$ 2,6 mil.
Além de pagar pelo equipamento um valor acima do mercado, os deputados podem ter cometido outra irregularidade. A compra de bloqueadores de celular não é proibida. Mas, de acordo com regulamentação da Anatel, esse tipo de aparelho pode ser usado apenas em presídios, com autorização do Ministério da Justiça. Até agora, porém, a Assembleia não informou oficialmente se o bloqueador foi instalado e nem o motivo da aquisição.
Um representante comercial da empresa Neger Telecom, de São Paulo, que atua nas áreas de engenharia de telecomunicações, informa que a implantação de um sistema de bloqueio requer um elaborado projeto de engenharia de radiofrequência. Segundo a empresa, a área exata de bloqueio depende dos níveis de sinais das operadoras celulares locais.
A compra do bloqueador foi feita pela Assembleia em abril de 2010, ainda sob a gestão do ex-presidente da Casa Nelson Justus (DEM). O equipamento foi licitado com três detectores de escutas ilegais. Somados, os aparelhos chegaram a R$ 29,8 mil na oferta da Menestrina e Cia. Ltda, empresa vencedora da licitação.
Embora a compra tenha sido efetuada, a Embrasil, empresa que fez uma varredura na sede do Legislativo no mês passado, afirma não ter localizado nenhum dos quatro itens licitados. A busca foi feita depois que policiais militares encontraram, dentro de um cofre na sala da segurança da Assembleia, dois bloqueadores de interceptação telefônica. Mas não se sabe se algum dos equipamentos apreendidos seria o que foi comprado no ano passado.
Jogo de empurra
Nelson Justus afirmou, na última terça-feira, que não tinha conhecimento a respeito dos aparelhos e que não autorizou nenhuma compra de bloqueador por meio de licitação para a compra dos bloqueadores. O responsável seria o ex-primeiro-secretário da Assembleia no período, Alexandre Curi (PMDB), que assinou a ordem para a aquisição do material. Curi disse que ordenou a despesa após o ex-coordenador técnico da Casa, Francisco Ricardo Neto, ter garantido que a licitação era legal. O ex-coordenador foi procurado pela reportagem, mas não foi localizado.
O deputado Marcelo Rangel (PPS), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as escutas telefônicas na Assembleia, disse que não sabia que os valores da compra estavam tão acima do mercado e que a denúncia será investigada pela CPI. “É mais uma informação que será assimilada pela comissão. Se comprovarmos que houve superfaturamento, teremos de identificar os responsáveis”, afirmou Rangel.
Varredura
A CPI da Escuta foi criada depois que a Embrasil encontrou um grampo telefônico na Casa e três kits que supostamente fariam escuta ambiental em salas do Legislativo. A varredura foi feita logo após a posse de Valdir Rossoni (PSDB) na presidência da Assembleia, no início de fevereiro.
Em princípio, cogitou-se que os aparelhos encontrados pudessem ser os mesmos comprados pela própria Assembleia. A hipótese foi descartada pelos peritos da Embrasil e pelo delegado do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), Alexandre Macorin, ouvido pela CPI na última segunda-feira. Segundo o delegado havia um “grampo clássico” no telefone da presidência instalado ao lado do plenário e não eram os equipamentos comprados pela casa na licitação.
Após o recesso de carnaval, a comissão deve se reunir para ouvir Marcos Aurélio Menestrina, responsável pela empresa que venceu a licitação. À reportagem da Gazeta do Povo, a Menestrina alegou que entregou os equipamentos licitados, mas que a empresa não foi responsável pela instalação.

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